A história das Crianças que Plantaram um Rio - Daniel da Rocha Leite

Posted by Acervo Cultural Bragança Pará on maio 13, 2023 | No comments

  

  VIAJANDO NA HISTÓRIA DAS CRIANÇAS DE QUE PLANTARAM UM RIO[1]

Antonio Gomes da Silva[2]

Seja diante das chamas tremeluzentes do fogo da luz de uma lamparina em uma casa de rio dentro da luz branca de um apartamento desde o início até o para sempre viver é contar histórias.(LEITE, p. 07, 2013)                                                                                                 

Fonte: LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio.Ilustrações Maciste Costa. Belém, PA: Ponto Press, 2013.

A obra A história das crianças de que plantaram um rio é o primeiro volume da Coleção Livro Lamparina, classificada pela Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil-CIP, como Literatura Infantojuvenil, Proteção Ambiental e Meio Ambiente. A primeira edição foi publicada em 2013 pela Editora Ponto Press, a segunda pela Editora Cereja e a terceira pela Editora Folheando. Daniel Leite sonhou com as palavras e escreveu, Maciste Costa que sonhou com as imagens e ilustrou.

Fonte: LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio.Ilustrações Maciste Costa. Belém, PA: Ponto Press, 2013.

O livro foi semeado em um encontro ocasionalmente do autor com uma criança, Chamada Adielson, no município de Soure, Ilha do Marajó.  Daniel da Rocha Leite, encontrava-se em uma roda de conversa sobre “Leitura e Liberdade”, na Escola Gasparino, em uma noite sem energia elétrica, iluminado somente por lamparinas, e ao iniciar a palestra é surpreendido por Adielson, que se aproxima por trás, puxa a sua camisa e fala que gosta tanto de ler, de viver a história e pede para que escrevesse uma história para ele.

Fonte: LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio.Ilustrações Maciste Costa. Belém, PA: Ponto Press, 2013.
Ao termino do evento, Daniel vai para o Hotel com o pedido do menino vindo à tona em seu pensamento. Tmbém sem energia elétrica no hotel, Leite resolve ficar conversando com um vigilante, observando o rio e os barcos passando carregados de toras de madeira. E como  uma epifania, naquele momento, brota o livro “A História das Crianças que Plantaram um Rio”. As três edições do livro são dedicadas ao “Adielson, o menino de Soure.

Sobre a obra literária,afirma Geovane Silva Belo; Andréia Souza de Oliveira (2020):

O livro infantojuvenil de Daniel Leite alcança leitores múltiplos. As crianças, por exemplo, podem imergir em uma narrativa que dialoga com o onírico, mas ainda atravessada pelas representações sociais da realidade ribeirinha. Desse modo, a memória e a voz do narrador menino estão carregadas de elementos simbólicos que saltam pelas histórias da avó. A linguagem poética se lança na tradução do imaginário e provoca o deslumbre no leitor. (BELO e OLIVEIRA, p.46, 2020)

Fonte: LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio.Ilustrações Maciste Costa. Belém, PA: Ponto Press, 2013.
 A livro apresenta um personagem em primeira pessoa que revive sua história por meio das lembranças do lugar onde nasceu. Mesmo morando distante por mais de quarenta anos, já com uma idade avançada, não deixou sonhar e revela que suas memórias, sensações, sonho e histórias de avó, sobre a vida em contato com esse personagem místico que é o rio.
Fonte: LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio.Ilustrações Maciste Costa. Belém, PA: Ponto Press, 2013.
O personagem recorda o final de uma tarde, sentado ao lado de sua avó na beira do trapiche, olhando o rio passar, aquela voz bem baixinha, quase como sussurro, dizendo que o rio queria conversar e acrescenta mais:

Quando ela começava a me contar uma história, muitas vezes eu nem sabia que era uma história. Era uma pergunta, era um silêncio, era uma palavra, era um olhar de vó, a luz do mundo de uma das suas histórias. Sem eu mesmo saber, sequer desconfiar, a história já estava acontecendo. (LEITE, p. 45, 2013)

Ele lembra, também, que pediu insistentemente para sua avó que contassem histórias durante o dia, mas ela sempre dizia que não pode contar, pois a história é noite. Mas um dia, a noite se foi aos olhos de sua avó e ela começou a contar uma história que jamais esqueceria.

Fonte: LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio.Ilustrações Maciste Costa. Belém, PA: Ponto Press, 2013.

Segue a transcrição da História:

Houve uma noite, meu filho, que levaram o rio embora. Ficou só a cama dele aqui, no meio do mundo da nossa terra. Um lugar vazio. Abandono que se ouvia longe, eco solidão. Vento que tinha arame farpado por dentro. 

Do rio daqui da nossa terra só deixaram a sombra dele, que a pressa dos ladrões não se lembrou de levar. A sombra do rio ficou lá, dentro do fundo da terra, esquecida e seca sombra, chão rachado de uma vida.

A sombra do rio chorava um choro mudo, sem alma de águas. Ninguém ouvia, mas todo mundo era capaz de sentir a tristeza da sombra do rio.

Era uma dor muita, meu filho.

Na tarde de uma noite, nas margens do vazio do rio, não se sabe de onde, apareceram umas crianças. A noite já ia alta, toda a gente já estava dormindo.

Era criança de todo lugar da Terra. Elas vieram. Olharam para o céu e cantaram uma canção.

Lá, bem longe, um trovão tremeu o telhado do céu. Das nuvens noturnas, daquelas que a gente pouco vê, começou a cair uma chuva bem fraquinha, uma chuva fininha, chuva magrela, que parecia não ter força bastante para cair, aqui, na nossa terra.

Relâmpagos em silêncio acenderam a escuridão da noite. As crianças, todas juntas, abriram as mãos. A chuva, enfim, veio viva. Chuva caindo, chuva prateada de estrelas, caindo de dentro da palma da mão daqueles meninos e meninas de todo o mundo.

Lusco-fusco, o dia ainda era noite, meu filho. Lusco-fusco. Dia ainda noite quando as crianças guardaram a chuva dentro das suas mãos.

O sol estava nascendo quando elas foram até o lugar onde ficava sombra do rio. Chegando lá, meu filho, as crianças que tinham a chuva em suas mãos fizeram dela semente e lançaram as suas águas no chão da sombra do rio.

Aqueles meninos e meninas, meu filho, plantaram um novo rio sonharam um novo mundo, semearam uma nova história.

Chuva semente, meu filho.

Mãos de todas as crianças do mundo.

Um rio que foi plantado sonho de vida.

Quando o dia nasceu, meu filho, o rio estava aqui, de volta, vizinho da gente, respirando lá fora, perto da nossa casa, junto da gente.

O nosso velho rio novo. Vivo, correndo as palavras e silêncios.

O nosso rio, meu filho, as nossas histórias... (LEITE, p.67 a 75, 2013).

Fonte: LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio.Ilustrações Maciste Costa. Belém, PA: Ponto Press, 2013.
 
LIVRO FALADO
Ledores: Daniel Leite e Joana Martins. Belém, Pará, Brasil.
 
REFERÊNCIA

LEITE, Daniel da Rocha. Entrevista [maio 2023]. Entrevistador: SILVA, Antonio Gomes da. Belém – PA, 2023.

LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio / Daniel da Rocha Leite sonhou as palavras e escreveu; Maciste Costa sonhou as imagens e ilustrou. 1.ed. Belém, PA: Porto Press, 2013. (Coleção Livro Lamparina).

BELO, G. S.; OLIVEIRA, A. S. “A história das crianças que plantaram um rio”: A representação da infância na literatura infantojuvenil de Daniel da Rocha Leite. Revista Crioula - nº 25 - Literaturas de língua portuguesa para crianças e jovens-1º Semestre 2020, p. 45 a 64. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/crioula/issue/view/11444/1852. Acesso em:13/05/2023.

NUNES, Brisa Caroline Gonçalves. Da ilustração de livro infantil ao imaginário Amazônico: mergulhos em “A história das crianças que plantaram um rio”. Orientador: José Afonso Medeiros Souza. 2016. 148 f. Dissertação (Mestrado em Artes) - Programa de Pós-Graduação em Artes, Instituto de Ciências da Arte, Universidade Federal do Pará, Belém, 2016. Disponível em: http://repositorio.ufpa.br:8080/jspui/handle/2011/8647. Acesso em:13/05/2023.


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[1] Trabalho da Disciplina Literatura Infanto Juvenil e Ensino do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Língua Portuguesa e suas Respectivas Literaturas- PPGELL/UEPA. Orientação, Renilda do Rosário Moreira Rodrigues Bastos. Doutora em Ciências Sociais – Antropologia-UFPA. Mestre em Letras - Teoria literária- UFPA. Especialista em Literatura Infantojuvenil-PUC /MG. Professora adjunto IV-UEPA. E-mail: renilda.bastos@uepa.br

 [2] Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Língua Portuguesa e suas Respectivas Literaturas -PPGELL/UEPA. Especialista em Língua Portuguesa e Literatura no Contexto Educacional.Licenciado em Letras pela Universidade do Estado do Pará – UEPA. Professor de Língua Portuguesa na Escola Municipal de Ensino Fundamental Belarmino Alves Corrêa, Augusto Corrêa-PA. E-mail: antoniog.silva@yahoo.com.br

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