A madrugada era embalada
pelos ventos fortes que sopravam do oceano, levando ondas de até três metros de
altura que deslizavam sobre sua crista, arrebentando a areia cristalina da bela
praia encantada, resplandecendo na noite, refletindo os raios de luar.
Poseidon, atraído por
tamanha beleza, deixou-se levar pelas ondas até as margens daquele fulgurante
lugar. O enlevo o atraiu ao descanso e ele resolveu transformar o grande lençol
de areia em seu improvisado leito.
Em êxtase, deixou-se
embalar pelo vento, liberou toda a sua energia, para alcançar o relaxamento
total, embriagado por tanta beleza.
As estrelas se agigantava
refletidas em suas pupilas, deslizando pelos filamentos desprendidos dos raios
de luar, transformando-se nem maravilhoso caleidoscópio, pigmentado de todas as
incontáveis cores do universo.
Assim, viu o lençol de
areia transformar-se numa grande nuvem, que aos poucos foi ganhando altura,
revirando o universo e possibilitando observar lá ao alto toda a beleza daquela
esfuziante região.
A sensação era
maravilhosa. O oceano infindo se quebrando em ondas, fazia salpicar em suas
mãos os frutos de uma vegetação de médio porte, arrebatados pelo impacto das
ondas. Eram vermelhos, polpudos, doces e saborosos. Após a degustação, a
inspiração divina pronunciou-se: A ti, ó fruto abençoado, que saciaste a fome
de um deus, eu chamarei Ajurú, e a está paradisíaca praia onde fertilizas com
abundancia, a batizo de Ajuruteua!
A nuvem seguiu o seu
caminho, lavada pelo vento, transportando o deus dos mares. Um risco brilhante
dividia sinuosamente a floresta, encontrando-se com o oceano. Era um caudaloso rio
do qual Poseidon pôde sentir toda a energia desprendida, como uma artéria
conduzindo sengue para toda aquela região.
Resolveu explorar o
estratégico corredor, enquanto a nuvem, parecendo obedecer aos seus desejos,
sobrevoava o mesmo.
A certa altura, em uma
curva do rio, avistou deslumbrado, a terra que se debruçava sobre suas margens,
num extasiante repouso, como uma escrava ajoelhada aos pés do seu senhor,
apenas olhando o acontecer.
Poseidon, encantado pela
beleza e magnitude da natureza, levantou-se e, num gesto incontido, exclamou:
Que maravilha!... Enfiando os dedos na boca, retirou uma pérola de incomparável
beleza em num gesto de extrema delicadeza, depositou-a à margem esquerda do rio,
dizendo: “De hoje em diante não serás uma escrava, serás uma princesa, e todo
te reconhecerão pelo nome de “Pérola do Caeté”. Ele, o rio, será o teu escravo
que lavará os teus pés por toda a tua existência. Seu nome, Caeté, significa “Mato Bom” e sua caça será o
pisco que conservarei para que nunca te falte. Terás muitos filhos e, em suas
veias, correrá um tipo de sangue tão especial que um dia um de teus filhos o
chamará de Bragantinidade. Não permitas que matem o teu escrevo poluindo suas
águas, pois além de servo é o teu sustentáculo; se morrer morrerá com ele. ”
De repente, no enlevo
daquela noite mágica, a pérola começou a se deslocar, multiplicando-se à medida
que percorria a ribanceira, transformando-se num resplandecente colar. Os raios
dele refletidos projetavam sobre o Caeté, imagens holográficas de soberbas
palmeiras imperiais.
Poseidon, completando a
sua profecia, exclamou: “Bragança” Um dia receberás este nome, que significa
Castelo, Fortaleza, e assim solidificarás o teu reinado com a minha benção.
Como sinal de minha proteção, deixarei no alto da ribanceira uma “Perola Negra”,
que fará nascer nos corações de teus filhos o espirito de irmandade, amor e fé.
Um vento forte o levou de
volta à foz do oceano, que o recebeu amortecendo o impacto de seu corpo,
penetrando nas águas como um projétil, após lançar-se de cima das nuvens. Poseidon
acordou nas profundezas do mar, feliz com o sonho que acabara de sonhar.
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NOTA:
*Lenda criada na concepção do autor.
Texto do livro "Trilhos: O Caminho dos Sonhos (Memorial da Estrada de Ferro de
Bragança)". Pags.30 a 33.
Referência:
SIQUEIRA, José Leôncio Ferreira
de, 1946. Trilhos: O Caminho dos Sonhos (Memorial da Estrada de Ferro de
Bragança). Editora independente, Bragança – 2008.
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