Bragança – Caixa de Memória - José Ribamar de Oliveria

Amigo leitor,

A vida é um dever que trazemos pra fazer em casa, quando se vê, 69 anos já se passaram e agora é tarde pra ser reprovado.

No Édem da vida fui colocado pra ser útil à sociedade. Para isso, o Pai encheu-me, deu alguns dons e carismas e os desenvolvi com ajuda de inúmeros cireneus.  

Vivi mais de 40 anos debruçados nos estudos, o bastante pra dizer que nada sei; sei que deixo uma grande contribuição à posteridade.

Quando jovem, achava que tinha respostas pra tudo. Agora que estou na melhor idade, a minha nostalgia ao ver a vida acabar aos poucos.

Então, as palavras têm sabor de saudades... ah! Se pudesse voltar ao tempo, faria as mesmas coisas e talvez melhores; saberia lidar com a angústia, com a ausência, com as lágrimas, arcando as consequências boas e más.

Amigos, na reta final, onde a diabetes quer consumir-me, vejo ao longe a bandeira de chegada, previno-me e lanço a última contribuição literária: “Bragança – Caixa de Memória”. São minhas andanças e convívios em textos cheios de figuras de linguagem, dando vida aos personagens.

Portanto, carrego comigo este pensamento que resume a minha vida:

 

“Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois,

perdem o dinheiro pra recuperar a saúde e por

 fim viver ansiosamente no futuro.

Esquecem do presente de tal forma  que,

 acabam não vivendo nem o presente, nem o futuro.

Vivem como se nunca fosse morrer, e, morrem como se

nunca tivesse vivido”

 

Nota: Mensagem do autor - 2021- Livro: Bragança - Caixa de Memória


Autor
: José Ribamar Gomes de Oliveira 

(Professor, historiador e escritor de Bragança)

E-mail: ribines51@gmail.com

 

 

LEIA TAMBÉM

Bragança, aonde está minh’alma está você!- José Ribamar Oliveira

Historicidade Jesuítica no Caeté - José Ribamar Oliveira

A Lenda da Origem de Bragança*-José Leôncio

 

A madrugada era embalada pelos ventos fortes que sopravam do oceano, levando ondas de até três metros de altura que deslizavam sobre sua crista, arrebentando a areia cristalina da bela praia encantada, resplandecendo na noite, refletindo os raios de luar.

Poseidon, atraído por tamanha beleza, deixou-se levar pelas ondas até as margens daquele fulgurante lugar. O enlevo o atraiu ao descanso e ele resolveu transformar o grande lençol de areia em seu improvisado leito.

Em êxtase, deixou-se embalar pelo vento, liberou toda a sua energia, para alcançar o relaxamento total, embriagado por tanta beleza.

As estrelas se agigantava refletidas em suas pupilas, deslizando pelos filamentos desprendidos dos raios de luar, transformando-se nem maravilhoso caleidoscópio, pigmentado de todas as incontáveis cores do universo.
 

Assim, viu o lençol de areia transformar-se numa grande nuvem, que aos poucos foi ganhando altura, revirando o universo e possibilitando observar lá ao alto toda a beleza daquela esfuziante região.

A sensação era maravilhosa. O oceano infindo se quebrando em ondas, fazia salpicar em suas mãos os frutos de uma vegetação de médio porte, arrebatados pelo impacto das ondas. Eram vermelhos, polpudos, doces e saborosos. Após a degustação, a inspiração divina pronunciou-se: A ti, ó fruto abençoado, que saciaste a fome de um deus, eu chamarei Ajurú, e a está paradisíaca praia onde fertilizas com abundancia, a batizo de Ajuruteua!
 
 A nuvem seguiu o seu caminho, lavada pelo vento, transportando o deus dos mares. Um risco brilhante dividia sinuosamente a floresta, encontrando-se com o oceano. Era um caudaloso rio do qual Poseidon pôde sentir toda a energia desprendida, como uma artéria conduzindo sengue para toda aquela região.

Resolveu explorar o estratégico corredor, enquanto a nuvem, parecendo obedecer aos seus desejos, sobrevoava o mesmo.

A certa altura, em uma curva do rio, avistou deslumbrado, a terra que se debruçava sobre suas margens, num extasiante repouso, como uma escrava ajoelhada aos pés do seu senhor, apenas olhando o acontecer.
 
 
Poseidon, encantado pela beleza e magnitude da natureza, levantou-se e, num gesto incontido, exclamou: Que maravilha!... Enfiando os dedos na boca, retirou uma pérola de incomparável beleza em num gesto de extrema delicadeza, depositou-a à margem esquerda do rio, dizendo: “De hoje em diante não serás uma escrava, serás uma princesa, e todo te reconhecerão pelo nome de “Pérola do Caeté”. Ele, o rio, será o teu escravo que lavará os teus pés por toda a tua existência. Seu nome, Caeté, significa “Mato Bom” e sua caça será o pisco que conservarei para que nunca te falte. Terás muitos filhos e, em suas veias, correrá um tipo de sangue tão especial que um dia um de teus filhos o chamará de Bragantinidade. Não permitas que matem o teu escrevo poluindo suas águas, pois além de servo é o teu sustentáculo; se morrer morrerá com ele. ”

De repente, no enlevo daquela noite mágica, a pérola começou a se deslocar, multiplicando-se à medida que percorria a ribanceira, transformando-se num resplandecente colar. Os raios dele refletidos projetavam sobre o Caeté, imagens holográficas de soberbas palmeiras imperiais. 
 

Poseidon, completando a sua profecia, exclamou: “Bragança” Um dia receberás este nome, que significa Castelo, Fortaleza, e assim solidificarás o teu reinado com a minha benção. Como sinal de minha proteção, deixarei no alto da ribanceira uma “Perola Negra”, que fará nascer nos corações de teus filhos o espirito de irmandade, amor e fé. 
 

Um vento forte o levou de volta à foz do oceano, que o recebeu amortecendo o impacto de seu corpo, penetrando nas águas como um projétil, após lançar-se de cima das nuvens. Poseidon acordou nas profundezas do mar, feliz com o sonho que acabara de sonhar. 
 
 

__________________

NOTA:

*Lenda criada na concepção do autor.

Texto do livro "Trilhos: O Caminho dos Sonhos (Memorial da Estrada de Ferro de Bragança)". Pags.30 a 33.

Referência:

SIQUEIRA, José Leôncio Ferreira de, 1946. Trilhos: O Caminho dos Sonhos (Memorial da Estrada de Ferro de Bragança). Editora independente, Bragança – 2008.

LEIA TAMBÉM