Posted by Acervo Cultural Bragança Pará on janeiro 01, 2023 | No comments
Bragança beira-rio, cidade presépio,
minha Bragança de São Benedito,
cheia de sonhos e poetas:
- Onde estás De Castro de Souza?
-Em que estrela te escondes Alírio Pinheiro?
Eu te pergunto, Bragança minha,
onde perdi aquela pureza de
infância,
onde ficou aquela meu primeiro
sonho-fantasia,
em que pedra está o epitáfio muito
frio
e muito triste do meu primeiro
desengano?...
Ah, casarão colonial de tanta luz,
meu berço,
de vento batido, sobrado da Rua do
Mar,
onde aprendi a ser livre como o
vento,
a ser sentimental com as cantilenas
dos barqueiros,
a ser poeta com o poente sobre o
Caeté
a lua cheia, amarela, como rosa
chá,
despetalando-se miríades, enquanto
mudo que nunca esqueci...
Ah, Bragança de meus amores,
finados amores,
onde à luz do luar haviam violões em
serenatas,
em que mundos perdi a rara e doce
emoção
de já não saber te contemplar
tranquila e serena
nessas noites misteriosas, como fazia outrora!...
Ah, a alma de tua tradição
afro-ameríndia,
cidade cheia de lendas e muitos
amores:
-Lá vai São Bendito, preto velho,
bom e batuta,
todo fim de ano a sua esmolação!...
(Santo milagroso, Santo do meu
povo,
A tua casa é a casa da gente
cabocla
Que confia muito na tua
proteção!...)
São João, meu São João da Aldeia!...
Ah, que saudades,
vou passar fogueira novamente,
vou acender o meu balão,
Meu São João, “acende a fogueira do
meu coração”,
há invernia e tristeza, a tua casa
o vento levou,
mas em nós, Voz do Deserto, ainda
restou
a tua sagrada devoção...
São Raimundo da Penca, os trilhos
da velha ferrovia
eram o caminho e o convite,
havia a tua fé, a tua grande
procissão
e a cabocla brejeira,
festa do povo que o vento e o
progresso levou!
Sta. Teresinha, a pálida monja de
Antônio, o devoto
aos teus pés, na capela do
morrozinho,
casais de enamorados e tardes tão
líricas,
construíram castelos em sonhos tão
puros e tão cândidos!...
Recebe o teu devoto que se foi tão
contente
de te conhecer como a mais santa de
todas as santas!...
Bragança beira-rio, cheio de
sonhos,
e sempre havia a menina-moça de
cabelos cheios de viração,
e no rosto uns olhos doidos cheios
de emoção!...
Bragança minha, há saudades no
coração,
eu te trago minha alma, minhas
mágoas e minhas palavras pobres,
eu toco tua terra e me redimo,
e nestas ruas encontro a tua
madrugada sorrindo para mim,
e há a eterna promessa sempre
renovada
de ser sempre teu, minha doce
amante,
e sinto, de leve, teu beijo de amor
nos meus lábios que sussurram
eternamente:
_ VIVA A BRAGANTINIDADE!...
Autor: Jorge Daniel de Souza Ramos
Imagens:IBGE Cidades
Referência
Ramos, Jorge Daniel de Souza,1927 -
1981. Toda a poesia de Jorge Ramos. Organização de Celso Luiz Ramo de
Medeiros.- Brasília: C.L.R. de Medeiros, 2010, p. 45 a 47.
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