Posted by Acervo Cultural Bragança Pará on dezembro 24, 2022 | No comments
Fundada em 03 de setembro
de 1798 por iniciativa de escravos da Vila de Bragança, a Irmandade do Glorioso
São Benedito (e consequentemente a Marujada) e toda a Festividade estão
intimamente ligadas às principais tradições religiosas e culturais do povo
bragantino. Tanto que em todos os lares a devoção de São Benedito começou a se
firmar como sua maior devoção.
No início do século XX aconteceu o processo de embranquecimento, pela entrada de brancos ao seu quadro de irmãos. Teve como documentos principais os Compromissos, próprios das antigas irmandades religiosas. E seus rituais divergem das variações existentes no Brasil, com nomes como Fandango, Barca, Chegança de Marujos. Não podemos ser dissociada do aspecto sagrado e devocional, mas fazemos parte dele, existe uma delimitação do espaço sagrado (com missa novena e procissão) e do profano (com a dança, cavalhada, leilão, almoço) num sistema de representações bastante peculiar. Os atos religiosos eram realizados pelos padres da Diocese de Bragança. É a principal contribuição religiosa, histórica e folclórica do nordeste paraense.
Esmolação
Conjunto de atos religiosos realizados por
três comitivas de esmoleiros que percorrem as regiões dos Campos, Colônias e
Praias circunvizinhas a Bragança e outros municípios, angariando esmolas e
ofertas para Festividade. É em muitos
casos. a única presença religiosa nas localidades mais distantes da sede do Município.
Cada comitiva de esmoleiros trajando opas, leva uma imagem de São Benedito,
instrumentos musicais, bandeiras e executam um conjunto de canções orantes em
latim, ladainhas e folias de homenagem a São Benedito, de acordo com o
calendário de visitas nas casas de devotos, que pagam suas promessas hospedando
e alimentando os esmoleiros.
Hierarquia
Comando das Marujas
A Marujada tem uma
hierarquia que demarca significativamente os espaços entre homens e mulheres,
enaltecendo a figura feminina na maruja como mais importante em todos os
eventos da Festividade. A principal autoridade da Marujada é a Capitoa, de
cargo e função vitalícia, que disciplina e comanda as demais marujas, numa
inversão social própria do período e bastante peculiar nos cultos africanos
afro-brasileiros de resistência à escravidão e submissão das mulheres. Existem
ainda outros cargos como Vice-capitoa e Vice-capitão.
As mulheres são as figurantes principais da Marujada
e desde o dia de Natal vestida de azul, para o Menino Jesus e no Dia de São
Benedito com traje oficial em vermelho impostam seus chapéus turbantes de penas
brancas, aba dourada, pequenas flores vermelhas e enfeites dourados ao redor,
terminando com fitas coloridas.
Vestido do Menino Jesus
de São Benedito
Como uma das heranças de
tradição colonial, as imagens eram vestidas e ordenadas com os mais valiosos
tecidos e roupas. Para a imagem do Menino Jesus, carregado por São Benedito,
desde muitos anos, são confeccionados vestidos, como pagamento de promessas,
dos mais variados modelos e valores. Um grande conjunto deles é exposto à
visitação dos devotos na Igreja de São Benedito em Bragança.
Cavalhada
Tem como tema principal a
influência cristã, um dos eventos da Festividade de São Benedito, lembrando o combate
entre cristão e mouros nas batalhas medievais por territórios sagrados. Vence
quem conseguir alcançar o maio número delas.
Danças da Marujada
As danças executadas por marujos e marujas
compõem uma parte do ritual como forma de agradecimentos ao Santo por graça
alcançadas.
a) RODA, dança que inicia e termina todo o ritual da Marujada, como
forma de comemoração e agradecimento, apenas com as marujas em círculo, tendo
ao centro, a Capitura e Vice-capitoua.
b) RETUMBÃO, com ritmo do lundu de origem afro-brasileira dançando em
dois casais, sendo a mais importante dança do ritual.
c) CHORADO, com o mesmo ritmo londu em um tom musical baixo do retumbão,
dançado em par, onde os marujos iniciam o ritual tirando uma maruja para dançar,
por ordem de hierarquia.
d) XOTE, como principal expressão de dança característica da cidade de
Bragança, se incorporou à Marujada por seu significado popular, sendo de origem
europeia.
e) MAZURCA e mas de origem europeia, foi introduzida nos salões pelos
brancos, formada por pares de casais, livremente impostos em fila.
f) VALSA
também de origem europeia, introduzida no ritual pelos brancos, composta por
casais livremente dispostos.
g) BAGRE (ou contra-dança) uma das mais populares e prazerosa tendo a
frente um marcador que por casais, imita uma quadrilha.
Instrumentos
musicais
Indumentária
Ainda com relação ao traje, as marujas usam
uma blusa branca, todo pregueada e rendada e saia, vermelha ou azul com as
ramagens nessas cores. A tiracolo, cingem uma fita vermelha ou azul conforme a
cor da saia e no peito ostentam uma rosa vermelha ou azul. Na cabeça ostentam
um chapéu todo emplumado e cheio de fitas coloridas e no pescoço trazem colares
coloridos e dourados com medalhas.
A parte mais valiosa
dessa indumentária é o chapéu cuja base era feltro, coco ou cartola. Os de
fabrico moderno são de carnaúba palhinha ou mesmo papelão. Seja qual for o
material empregado na estrutura básica do chapéu, ele é forrado na parte
interna e externa. A aba com papel dourado. Em torno formado um ou mais cordões
em semicírculo, presos nas extremidades onde são voltas ou alças de casquilho
dourado, prateado ou colorido. Entre as alças, por cima das voltas, são também
colocados espelhinhos quadrados ou redondos.
No alto, plumas e penas brancas, formam um penacho.
Da aba, na parte posterior do chapéu, descem ao longo da costa da maruja,
numerosas fitas. O maior número ou largura de fitas, embora não indicando a hierarquia
era reservada as mais antigas.
Os homens vertem calças e
camisa brancas, usam chapéu de palha e carnaúba, vestido de pano com a aba
virada e fixa em um dos lados com uma flor de papel artificial em plástico
vermelho ou azul, de acordo com a saia da maruja. No braço esquerdo, amaram uma
fita, com um laço.
Autor: Prof. Dário Rodrigues Nonato da Silva
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NOTA:
Texto do Panfleto de
divulgação da Irmandade da Marujada de São Benedito.
Imagens: Divulgação
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