A Lenda da Moça do Mototáxi de Bragança

Diz a lenda que um rapaz chamado Tomé que trabalhava a noite como Mototáxi em Bragança, após levar um senhor conhecido como seu Pedrinho para a Praia de Ajuruteua e ao retornar para cidade de Bragança pega uma passageira que mudará completamente sua vida.

Tudo começou na manhã do dia 02 de novembro, quando dona Maria, mãe de Tomé, bate apressadamente na porta do quarto do seu filho e o acorda:

-Tomé, você não vai trabalhar hoje?

Não, mãe, responde o filho.

A mãe insiste:

-Tomé, levanta, lembra que você tem conta para pagar...

Eu sei, mãe, vou trabalhar só à noite. Hoje é feriado, além disso, vou aproveitar pra namorar um pouco também!

Namorar? Você nem tem namorada que eu saiba... É melhor deixar dessa besteira menino, pois hoje não é dia para encontrar namorada.    

Quem disse isso, mãe? Eu conheço vários colegas que gostam de conhecer pessoas novas nesta data. Pois a noite é a hora que aparecem muitas gatas dando sopa no Campo da Saudade e no São Rosa de Lima.

-Ram!!!, Menino, menino!... cuidado no que fala… Repreende a mãe.

Já no final da tarde, a mãe de Tomé pergunta outra vez:

-Meu filho, você não vai jantar antes de trabalhar?

Não, mãe, eu vou comprar um churrasquinho de gato, um copo de mandicuera e um bolo de macaxeira para comer quando eu passar na frente do Campo da Saudade.

Desde o início da noite foi de muito trabalho para Tomé, pois ele  recebeu várias ligações para pegar e levar passageiros das localidades próximas da cidade de Bragança e um dos fretes foi para deixar o seu Pedrinho em sua casa na Praia de Ajuruteua e ao retornar para cidade, em uma das pontes da PA-458, uma moça levanta a mão para uma corrida até Bragança.

Já na estrada, o mototáxi para puxar conversa com a passageira, começa aquestioná-la:

-Você tem muita coragem para ficar naquele local, moça. Eu não ficaria. Dizem que aparecem visagens lá, você acredita?

-Mas, afinal, o que aconteceu para você estar sozinha encima da ponte? Não faz muito horas que passei por lá e não vi ninguém, pois eu fui levar o seu Pedrinho na praia de Ajuruteua, você o conhece?

-Está fazendo muito frio! Mas é assim mesmo. É porque estamos passando por essa área de mangue..., e com esse vento congelante bem que eu gostaria de estar em casa enrolado no meu lençol…

-Moça, você está bem? Está tão calaada!!!

-Estamos chegando na cidade. Onde você vai ficar? Espero que ainda tenha alguma coisa para vender, pois estou com muita fome. A minha mãe até disse para eu jantar antes de sair, mas eu não quis ouví-la…, hoje tive muito trabalho.

-Moça, chegamos em Bragança, a cidade está deserta pois já está se aproximando da meia noite, onde você vai ficar mesmo?

A moça responde sussurrando próximo do seu ouvido:

-No Campo da Saudade.

Ao ouvir a moça, o mototáxi sentiu um calafrio, mas seguiu em frente até o local indicado e ao parar a moto ele pergunta:

-Moça, chegamos, já não tem mais ninguém aqui, somente as velas queimando… No meu relógio está dando meia noite, tem certeza que vai ficar sozinha na frente do cemitério?

A moça confirma balançando a cabeça que sim e com uma voz calma pergunta ao mototáxi:

- O senhor  poderia  passar pela amanhã neste mesmo lugar para pegar o seu dinheiro com meu pai?

Tudo bem, passo assim. Responde o rapaz.            

Depois dessa corrida, Tomé resolve ir para sua casa descansar. Ao amanhacer, após o café, retorna ao local para receber seu dinheiro. Quando chega na frente no portão principal do Cemitério, encontra um homem que já o esperava.

Você veio receber pela corrida de ontem? Perguntou o homem.

Sim, confirma, Tomé.

Após receber o pagamento, o mototaxista com curiosidade pergunta:

-Senhor, quem era aquela moça de ontem?

O homem responde:

- É minha filha!

E porque ela ficou sozinha aqui na frente do cemitério?

O pai com os olhos cheios de lágrimas e olhando diretamente para o jovem explica:

-A minha filha já faleceu há vários anos e todas as noites de finados ela pega um transporte até o cemitério. Como não é a primeira vez que ela faz isso, eu já fico aguardando aqui na frente para pagar a corrida.  

Não acredito. Retruca Tomé, olhando fixamente para o pai da moça.

Então o homem conduz Tomé até o túmulo de sua filha e mostra a sepultura com a foto dela.

Tomé cabisbaixa volta para casa atônito, sem dizer mais uma palavra. Foi a primeira vez que ficou sem falar nada. E daquele dia em diante passou a ouvir os conselhos de sua mãe e também não mais trabalhou nas noites de finados. 

 

Autor: Antonio Gomes da Silva

LEIA TAMBÉM 

A Lenda da Origem de Bragança*-José Leôncio

 

 

Escritor Daniel da Rocha Leite

 BIOGRAFIA DO ESCRITOR DANIEL DA ROCHA LEITE [1]

Antonio Gomes da Silva [2] 

“Quem faz o Daniel que escreve é o Daniel que lê, quem traz o Daniel que está aqui e que escreve é o Daniel que lê. Eu escolho a leitura como o meu estar no mundo, como a minha inquietação no mundo”.        (Daniel da Rocha Leite,2023)

Fotografia: Antonio Gomes da Silva

Daniel da Rocha Leite é advogado, professor, escritor infantojuvenil e poeta. Possui 18 livros publicados entre poesias, contos, crônicas e romances. Nasceu no Rio de Janeiro em 06 de março de 1966, filho de João Batista Cavalcanti Leite e Elísia da Rocha Leite. Mudou-se, ainda pequeno, com sua família para Belém e com seis anos de idade ficou órfão de pai, passando a ser criado juntamente com mais quatro irmãos somente pela sua mãe.

Fonte: LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio.Ilustrações Maciste Costa. Belém, PA: Ponto Press, 2013.

PRIMEIRO CONTATO COM A LITERATURA

Para saber como acontece o ato da escrita é preciso sempre pensar em como ocorre o ato da leitura. O primeiro contato de Daniel com a leitura ocorreu na sua infância, “pela bênção de ter uma mãe professora em casa. Atualmente, uma professora já aposentada pela SEDUC”, afirma LEITE (2023), em uma entrevista. Dona Elísia foi quem apresentou a literatura infantil, foi quem mostrou a direção certa, foi quem deu a chance, foi quem deu a oportunidade, foi quem deu o amor, foi quem deu “o direito à literatura”, como dizia Antônio Cândido, para uma criança que estava descobrindo o mundo.

De uma forma bem peculiar, em um ambiente humilde, dona Elísia pegava as revistas que tinham uma parte de literatura infantil e lia as histórias e depois pedia para que escrevesse o que ouviu em um pedaço de papel.

Minha mãe como professora semeou em mim, aquele menino que teve o encontro dos afetos com a leitura. Um encontro amoroso com a leitura. Minha mãe ao pedi que eu rescrevesse a história que ouvia, proporcionou-me o ato da reescrita, do reconto. Dessa forma foi o meu contato afetuoso com a literatura. (LEITE, 2023)

ESCREVER PARA PÚBLICO INFANTOJUVENIL

Escrever para o público infantil e juvenil é resgatar uma linguagem perdida pelo adulto ao longo dos anos. “Escrever para uma criança é ir em busca dessa linguagem perdida que ainda lateja, latente em mim” (LEITE, 2023). Os livros escritos por Daniel da Rocha Leite nasceram do encontro com crianças, das escutas, das observações e da busca por uma linguagem perdida.

Fonte: LEITE, Daniel da Rocha. Esparadrapo.Ilustrações Maciste Costa. Belém, PA: Ponto Press, 2021.

O Livro Esparadrapo é o exemplo desse contato com o público infantojuvenil. A personagem, Bia, ao subir para o seu quarto, ouve o seu irmão falar para o seu pai que ela estava com o bicho carpinteiro. Bia fica muito preocupada pensando ser uma doença e pergunta para sua mãe se o bicho carpinteiro tem cura. A personagem, então, percebe que o bicho carpinteiro, na verdade, era o sentimento do primeiro amor por um menino de jogava futebol na sua escola e que ele não admitia que uma menina também pudesse jogar. Para o autor:

O livro Esparadrapo nasce desse diálogo, porque conheci uma menina que passou por essa experiência do bicho carpinteiro, do primeiro amor. Também por ser rejeitada na escola pelo motivo de gostar de jogar futebol, principalmente pelo menino que ela tinha toda uma admiração. (LEITE, 2023)

Fonte: LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio.Ilustrações Maciste Costa. Belém, PA: Ponto Press, 2013.

A história das crianças que plantaram um rio, é outro livro que nasceu de um encontro do autor com uma criança no município de Soure. Daniel da Rocha Leite em uma roda de conversa sobre “Leitura e Liberdade” numa noite sem energia elétrica, sendo iluminado somente por lamparinas, é surpreendido por um menino que se aproxima, puxa sua camisa e lhe fala:

“Eu gosto de tanto de ler... O Senhor nem sabe. Eu vivo as histórias dos livros. Escreva uma história para mim? Naquele momento o livro Lamparina foi acesso: A história das crianças que plantaram um rio. (LEITE, 2023)

Nos livros supracitados, o autor dedica a obra às crianças. O Esparadrapo é dedicado à Dindinha, A história das crianças que plantaram um rio, a dedicatória é para o menino de Soure, Adielson.

VIDA ACADÊMICA

·     1989 -  Formou-se em Direito pela Universidade Federal do Pará – UFPA;

·   1997 - Cursou Licenciatura em Letras com habilitação em Língua Alemã, pela Universidade Federal do Pará – UFPA;

·    2003 - Especializou-se em Língua Portuguesa e Análise Literária pela Universidade do Estado do Pará – UEPA;

·    2014 - Tornou-se Mestre em Comunicação, Linguagem e Cultura, com a pesquisa “Casmurro Caminhos: memórias e imagens para despalavrar uma mulher” pela Universidade da Amazônia – UNAMA;

·     2020 - Fez doutorando em Estudos Comparatistas na Universidade de Lisboa, Portugal. 

 INFLUÊNCIA LITERÁRIA

·         Dalcídio Jurandir, 

·         Max Martins,

·         Maria Lúcia Medeiros,

·         Paulo Plínio

·         Machado de Assis.

 LIVROS PUBLICADOS

Fotografia: Antonio Gomes da Silva

·      INFANTIL E JUVENIL:

01 - Casa de Farinha e Outros Mundos (2007);

02 - Procura-se um Inventor (2010);

03 -  Menino Astronauta (2011);

04 - A História das Crianças que Plantaram um Rio (2013);

05 - Natais de um norte (2013);

06 - A Menina Árvore (2014);

07 - Vindo do Mar (2018);

08 - Burburinho (2018);

09 - Esparadrapo (2021);

10 - Já estavam no ventre da terra (2022);

 ·     CONTO:

11 - Águas Imaginárias (2004);

12 - Invisibilidades (2007);

13 - Ave Eva (2011);

14 - Águas, Casas, Barcos e Gentes (2016);

· CRÔNICA:

15 - Elas (2010).

Montagem: Antonio Gomes da Silva

·     POESIA:

16-Coletânea do Prêmio SESC-DF (2007);

17 - Aguarrás (2017);

·    ROMANCE:

18 - Girândolas (2009).

PRÊMIOS

·  1992, venceu o FEART na categoria poesia;

·  1994, 5º lugar em poesia no Concurso da Academia Paraense de Escritores;

· 1996, classificado na Antologia de São José dos Campos-SP. Faz parte do livro Glóbulos Negros, DCE-UFPA;

·  1998, venceu o VII FEART na categoria contos;

·  2003, teve poemas publicados no livro Estes Poetas, CAL-UFPA;

·  2004, venceu o Prêmio IAP, na categoria Literatura com o livro de contos Águas Imaginárias;

·  2004, venceu em duas categorias (poesia e contos) o Festival de Arte e Literatura da Assembleia Legislativa do Pará;

·  2007, selecionado no Edital de Literatura Infanto-Juvenil da Secretaria de Cultura do Estado do Pará, com o livro Casa de Farinha e Outros Mundos;

·  2007, selecionado na categoria poesia no Prêmio Carlos Drummond de Andrade, SESC-DF;2007, finalista do Prêmio Machado de Assis, com o romance Girândolas, SESC-DF;

·  2007, recebeu pela segunda vez o Prêmio IAP na categoria contos com o livro Invisibilidades;

·  2008, venceu o Prêmio Samuel Wallace Mac-Dowell da Academia Paraense de Letras, com o livro Girândolas;

·  2018, recebeu o Prêmio Amazônia de Literatura (categoria Poesia).2019, recebeu o selo Acervo Básico da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (PNLIJ) através do livro Burburinho.

·  2021, esteve entre os escritores finalistas do Prêmio Literário Barco a Vapor.

· 2022, recebeu o Prêmio Nelly Novaes Coelho – UBE / USP, com o livro Era preciso enfrentar os gigantes.

Prêmio Nelly Novaes Coelho – UBE / USP
REFERÊNCIA

LEITE, Daniel da Rocha. Entrevista [maio 2023]. Entrevistador: SILVA, Antonio Gomes da. Belém – PA, 2013. 

LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio / Daniel da Rocha Leite sonhou as palavras e escreveu; Maciste Costa sonhou as imagens e ilustrou. 1.ed. Belém, PA: Porto Press, 2013. (Coleção Livro Lamparina). 

 

LEIA TAMBÉM 

VIAJANDO NA HISTÓRIA DAS CRIANÇAS DE QUE PLANTARAM UM RIO



[1] Trabalho da Disciplina Literatura Infanto Juvenil e Ensino do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Língua Portuguesa e suas Respectivas Literaturas- PPGELL/UEPA. Orientação, Renilda do Rosário Moreira Rodrigues Bastos. Doutora em Ciências Sociais – Antropologia-UFPA. Mestre em Letras - Teoria literária- UFPA. Especialista em Literatura Infantojuvenil-PUC /MG. Professora adjunto IV-UEPA. E-mail: renilda.bastos@uepa.br

[2] Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Língua Portuguesa e suas Respectivas Literaturas -PPGELL/UEPA. Especialista em Língua Portuguesa e Literatura no Contexto Educacional.Licenciado em Letras pela Universidade do Estado do Pará – UEPA. Professor de Língua Portuguesa na Escola Municipal de Ensino Fundamental Belarmino Alves Corrêa, Augusto Corrêa-PA. E-mail: antoniog.silva@yahoo.com.br